[Leitura] A Moreninha

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Autor: Joaquim Manoel de Macedo
Ano: 1994 (desta edição, mas originalmente publicado em 1844)
Editora: Moderna
Páginas: 136
Avaliação: 5/5.
A Moreninha apresenta características típicas dos folhetins avidamente lidos pelo reduzido público da época, composto, principalmente, por estudantes e mocinhas, não por acaso personagens desse romance de estreia de Joaquim Manuel de Macedo. Augusto, Leopoldo e Fabrício, jovens estudantes de Medicina, pertencentes a famílias ricas, vão passar o dia de Sant'Ana em uma certa ilha, de propriedade da avó de Filipe, um de seus colegas. Augusto é um rapaz que se confessa volúvel: sente-se atraído por todas as moças que encontra e diz ser incapaz de se apaixonar por muito tempo por uma só mulher. Ele faz uma aposta com Filipe: se ficasse apaixonado por uma jovem durante quinze dias ou mais, assumiria o compromisso de escrever um romance contando tal paixão. Nos dias em que fica na ilha, sente-se muito atraído pela simpatia de Carolina, a Moreninha, irmã de Filipe. Termina o passeio na ilha, o tempo passa e Augusto volta outras vezes para visitar Carolina. Apesar de apaixonado por ela, confessa-lhe estar preso a um juramento de fidelidade feito a uma menina quando tinha treze anos, mas cujo nome desconhece e de quem nunca mais teve notícia. No final da história, para a resolução feliz do aparente conflito, descobrem que eles dois - Augusto e Carolina - são as duas crianças que, muitos anos atrás, juraram fidelidade um ao outro. Desse modo, Augusto, que parecia o mais volúvel dos rapazes, se revela fiel ao primeiro amor e conquista o coração de Carolina, mas perde a aposta que fizera com Filipe. Quando lhe perguntam sobre o romance que deverá escrever, ele responde que já está pronto e que se chama A Moreninha.

Que coisa mais fofa da vida!!!! Eu sei que hoje vivemos em tempos em que todos podem tudo, liberdade da mulher, relacionamentos voláteis que permitem mil e uma experiências novas e isso pode ser ótimo, mas gente, impossível não se derreter e suspirar com essa preciosidade do século XIX.



Ele consegue ser um romance simples e ao mesmo tempo complexo, cada passo elaborado, cada fala carrega sentidos dúbios, ficamos com nossas dúvidas assim como os personagens, queremos acreditar naquilo que o coração pensa ser verdade. O flerte consegue ser inocente mas arrebatador, parecia tão difícil conseguir uma mísera intimidade que gestos pequenos se tornam tudo aquilo que mais desejamos, um roçar de braços, um olhar que dura mais que alguns segundos, um juntar de dedal que acaba num singelo toque aos pés, foi de propósito? Foi sem querer? Ninguém sabe, mas o coração continua torcendo.

Ahh senhor! Eu tenho noção que pareço piegas, mas não tem problema, ainda me sinto presente dentro daquele universo. Me permito certa cafonice....kkkkkkkkk.

O pano de fundo riquíssimo em detalhes, a aristocracia brasileira, a roça, a corte, seus saraus, jogos e conversas. Somos imersos em um Brasil escravocrata com seus crioulos e suas senhoras, como é surreal imaginar que algum dia aquilo foi normal.

A Moreninha também rompe alguns rótulos da época, as heroínas até aquele ponto eram sempre descritas como louras e pálidas (inspiradas nas europeias dos romances de folhetim), Carolina além de ter a cor morena é irreverente, foge do esteriótipo de mocinha recatada, é esperta e faceira. Ela contagia todos, a sua família, a Augusto e a nós.

O Augusto seria o bab boy da época! kkkkkkkkkk. Sim mudamos o século mas certas coisas nunca mudam, ele fala  que não consegue amar uma menina por mais de quinze dias, o problema nem é a falta de interesse, é que ele ama todas ao mesmo tempo. Engraçadinho. =/

Nessa edição há diversas notas de rodapé com explicações das expressões usadas naqueles anos, outras tantas que ajudam a pessoa na interpretação ( e que me irritavam demais....hahhahahahha, tinham até umas meio spoilerentas). No incio da leitura tive um pouco de dificuldade por essa diferença na linguagem mas nada que uns capítulos não me ambientassem.

É uma leitura super válida, além de ser uma romance romântico com tudo que tem direito, conhecemos a vida social do Rio de Janeiro,  a variedade de problemas sociais e morais daquela época, a cultura e os costumes tão diferentes que parece tão longe daqui,  precisos 172 anos que nos mostram um Brasil irreconhecível na sua fala bonita mas infelizmente ainda perceptível nas diferenças sociais.


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