Livro Único
Editora: Globo Livros
Ano: 2013
Páginas: 504
Avaliação: 4/5
Exibido pela primeira vez no Brasil na 33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2009, o filme sueco Deixa Ela Entrar é um fenômeno cult. Conquistou prêmios em mais de 40 festivais pelo mundo e foi refilmado por Hollywood. Concebida por John Ajvide Lindqvist, a história que deu origem ao filme foi publicada em 2004 na Suécia, onde se tornou best-seller instantâneo, lançada em mais de 30 países. Trata-se de uma das mais perturbadoras ficções de terror dos últimos tempos. Grande parte de seu impacto se deve à originalidade com que Lindqvist aborda a seara do vampirismo. Vários elementos dessa literatura estão presentes - a começar pelo título que faz referência à crendice de que vampiros só podem entrar em lugares para os quais são convidados -, porém ambientados no mais cru realismo. No enredo, Oskar, um garoto de doze anos, vive com a mãe no subúrbio de Estocolmo, na década de 1980. Solitário e alvo de bullying na escola, passa o tempo lendo e colecionando notícias sobre serial killers e planejando se vingar de seus perseguidores. No entanto sua rotina é alterada quando uma garota de doze anos, Eli, se muda para o apartamento ao lado. Uma profunda identificação aproxima o menino a Eli, ao mesmo tempo em que a vizinhança passa a ser assolada por uma onda de mortes misteriosas. Muito mais que sustos, o livro de Lindqvist desperta os horrores de quem tem de passar da infância para a maturidade em circunstâncias adversas e em um cenário opressivo. Com habilidade, o autor recorre a um registro naturalista, temperado de referências à cultura pop, para desenvolver uma história em que os medos são despertados tanto por elementos sobrenaturais quanto pela realidade concreta.
Eita livro esquisitinho, fofo e terrível. Sei que é estranho juntar estas três palavras para qualificar uma mesma coisa, mas para mim o livro foi bem por aí. Sabe quando você tem a sensação de perder a noção do certo e errado e mesmo assim adorar aquilo? Jogada em uma outra perspectiva que te tira da tua zona de conforto? Sair daquele trono de juiz dono da verdade e perceber a tenuidade do "correto"? Foi assim, quase assim.
O gênero terror/suspense não é que mais me apetece, o fator principal é que normalmente não me sinto envolvida, não me causa interesse e acabo não sentindo aquele medo proposto. Mas Deixa Ela Entrar veio de um jeito tão diferente, não sei se foi o fato de os protagonistas serem tão jovens que me ganhou ou se a naturalidade de como o pior de uma pessoa foi retratado, foi triste, foi mau, mas verossímil.
O autor nos imerge em um ambiente gelado numa pacata cidade da Suécia, duas crianças solitárias ( por motivos completamente diferente) acabam se esbarrando em um parquinho. Essa amizade pueril vai ultrapassando seus possíveis limites, o que parecia ser impossível vai se tornando realidade pouco a pouco. É curioso ver que mesmo tão diferentes como um era importante para o outro, aos poucos vemos ambos ganhando força. Por outro lado há aquela tensão de que aquilo não poderá durar eternamente.
Como um bom livro de vampiro que se preze traz com ele os dilemas morais e os sacrifícios impregnados de quem se encontra nessa situação, a narrativa é composta de inúmeros (mesmo) pontos de vista, ao mesmo tempo em que a historia vai sendo costurada vamos compreendendo essas diferentes perspectivas. A narrativa é alternada entre praticamente todos os personagens, as vezes isso causa uma certa confusão mas no fim percebe-se que foi uma boa aposta do autor.
Apesar de os personagens principais serem crianças o livro não é tão leve, há cenas abomináveis que me causaram náusea, outras tantas sádicas e até nojentas que não nos deixam esquecer como o ser humano pode ser cruel e pervertido. Em alguns momentos beira ao bizarro.
Acredito que por esse motivo é tão difícil classificá-lo, porque ao mesmo tempo que consegue ser delicado é também brutal. Adorei o livro e indico pra quem procura um história diferente, que preserve a "velha guarda" vampiresca mas que traz novos olhares.
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