Editora:Companhia de Bolso
Ano: 2009
Páginas: 312
Avaliação: 4/5
Sobre este romance, Italo Calvino escreveu: "O peso da vida, para Kundera, está em toda forma de opressão. O romance nos mostra como, na vida, tudo aquilo que escolhemos e apreciamos pela leveza acaba bem cedo se revelando de um peso insustentável. Apenas, talvez, a vivacidade e a mobilidade da inteligência escapam à condenação - as qualidades de que se compõe o romance e que pertencem a um universo que não é mais aquele do viver" (Seis propostas para o próximo milênio).
O livro, de 1982, tem quatro protagonistas: Tereza e Tomas, Sabina e Franz. Por força de suas escolhas ou por interferência do acaso, cada um deles experimenta, à sua maneira, o peso insustentável que baliza a vida, esse permanente exercício de reconhecer a opressão e de tentar amenizá-la.
Esse livro caiu de para quedas no meu colo, numa daquelas listas de livros em que você se depara, eu me deparei com "O livro mais vendido no ano em que você nasceu", já tinha esbarrado com esse título antes mas confesso que essa coincidência parva foi o impulso que falta pra embarcar nessa viagem filosófica.
Milan Kundera usa a premissa de Parmérides, filósofo do século VI antes de Cristo, para ele tudo no universo é dividido em duas partes, uma sendo positiva e outra negativa, quente(positivo)/frio(negativo), luz(positivo)/sombra(negativo), ser(positivo)/não ser(negativo), sendo o negativo a ausência do positivo. Porém ele entra em um bico sem saída quando a dualidade em questão é peso/leveza. Primeiro porque um não é ausência do outro e segundo porque qual dos dois é o positivo e qual é o negativo? Há uma relatividade difícil de julgar.
E ele vai através do romance e de reflexões filosóficas demonstrar essa subjetividade por meio de Tereza, Tomas, Sabina e Franz.
Um relacionamento monogâmico pode ser um peso, mas quando isso é uma exigência da pessoa que você ama? É o que a faz feliz. A felicidade dela é sua felicidade, uma relação então pacifica e duradoura pode ser um peso e ser positiva ao mesmo tempo. Mas e a leveza da liberdade? Viver ao seu bel prazer, tomando as decisões de uma forma mais simples também não é positivo?
Vemos essas questões por diversos prismas durante a vida desse quarteto, o quanto os "SEs" interferem, a eterna insatisfação pelo caminho escolhido, o quanto as coincidências se juntam com os "SEs" e moldam nosso destino.
E a traição? O que seria a traição? Ela também é relativa, pois uma pessoa que tem essa natureza de "liberdade" no momento em que trai está se tornando fiel a ela mesma não? E quando é fiel ao parceiro mas não concorda com essa ideia está traindo a si mesma.
Esta e tantas outras condicionalidades de ideias é trabalhada de forma insana no livro, é uma carga de informações,pensamentos e reflexões, é um daqueles que você pode reler mil vezes e sempre terá uma nova observação que não tinha dado importância antes mas que agora parece ser a mais significativa do mundo.
É um livro que deve ser lido por todos embora requer certa tenacidade e dedicação do leitor, a linguagem é mais complexa e filosófica, por vezes enfadonha, mas é aquele peso que você sente prazer em carregar porque toda a absorção de conhecimentos e ideias no final fazem valer a pena.
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