Livro Único
Editora: Intrínseca
Páginas: 160
Ano: 2016
Avaliação: 4/5
Diário de um ladrão de oxigênio é a confissão de um homem paranoico, dependente de álcool, drogas e de abusar emocionalmente de suas parceiras que um dia leva o troco — imagine que Holden Caulfield vive embriagado e Lolita é uma assistente de fotografia e que, de alguma forma, eles se encontram em Nova York: Uma Cidade em Delírio.
Com um texto direto, engraçado e extremamente realista, o narrador anônimo que divaga sobre a própria tragédia em busca de expiação fala na verdade de qualquer um de nós, de tudo o que fazemos e a que nos sujeitamos para suprir vazios que nem mesmo entendemos. Quem já que viveu um relacionamento conhece pelo menos um lado desse jogo.
Considerado um F. Scott Fitzgerald para a geração iPad, o autor, presume-se, tem origem britânica e publicou por conta própria seu livro em Amsterdã, onde morava à época. Com os pedidos das livrarias da capital holandesa aumentando cada vez mais, ele começou a levar exemplares a estabelecimentos de outras cidades, como a Shakespeare & Co, em Paris. Após se mudar para Nova York e encorajado pelo sucesso do livro na Europa, bancou uma tiragem de mais 5 mil exemplares. Logo começou a receber grandes pedidos da Amazon. Quem ele é, porém, e sobretudo quem foram suas mulheres, permanecem uma incógnita.
Nunca pensei que um nome (do autor) na capa fazia tanta diferença, a ausência dele então me causou quase um desconforto, acima de tudo curiosidade. Naturalmente me sinto próxima dos autores que leio, sentimento esse tão abstrato, pois querendo ou não é apenas o nome, aquele conjunto de letras, quem sabe uma foto na orelha da contracapa com simples informações e só, não há profundas apresentações.
Vai ser durante o desenvolver da trama que nossos laços se estreitam e por mais envolvida que esteja na leitura sempre penso nele, o autor. Como ele chegou naquela história? O esforço de não se destacar muito e deixar os personagens ganharem vida através da narrativa. As ideias, o quanto daquilo tudo é autobiográfico? Quanto é ele, quanto é ficção? É possível um livro ser completamente ficção? Sempre haverá recortes da vida real, pensamentos, diálogos ou interações já vividas. Neste a linha entre o real e o fictício foi ainda mais tênue.
Quando terminei Diário de Um Ladrão de Oxigênio quase compreendi o anonimato, o narrador é tão desagradável que até eu, leitora, me sinto desconfortável em dizer que gostei do livro. Serzinho altamente desprezível, misógino, canalha e egoísta não recebeu nem metade do que merecia, mas só em saber que ele pensa que recebeu um castigo hiperbólico me causou certo prazer.
Não vou negar que ele me divertiu, houveram momentos em que até me identifiquei (mas vamos fingir que não), esse anonimato sem dúvida o deu uma liberdade sem limites e foi isso que eu gostei, o livro não tem amarras, não tenta agradar ninguém, é sincero e você sente a verdade, mesmo em alguns momentos dando muita raiva não é aquela coisa montada.
O narrador vai nos contando de forma não linear o progresso do seu fracasso, somos jogados para frente e para trás, para histórias paralelas e pensamentos paranoicos de um publicitário (sim essa informação faz muita diferença na trama) egocêntrico.
No começo ele tem prazer em florescer o pior dos outros, se sente poderoso em saber que é capaz de tirar uma pessoa do sério. Depois de um tempo decide começar esse abuso psicológico nas mulheres, até que um dia o universo enfim cumpre seu papel.
Esse diário possui um final mas preciso dizer que eu amaria a continuação, se você leu me entenderá! Daí sim poderíamos nos divertir sem dor na consciência.... hahahhahahahha.
Ele é curtinho mas contém três longos capítulos, por esse motivo a leitura parece não render. Por outro lado somos imersos nos pensamentos dele sem um roteiro pré-definido, a narrativa é bem crua, realista e fluida.
Eu realmente não sei se indicaria, esse é um daqueles livros que tem que partir de você mesmo a vontade de ler, tem que haver certa curiosidade e consciência plena que é um livro repleto de pecados. Mas tenha consciência também que toda essa feiura sincera é difícil de encontrar, somos todos sempre cercados (ou temos esse desejo de estar cercados) por perfeição e as vezes essa negligência é uma folga, uma respirada que nos ajuda a aceitar que somos falíveis.
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